Por Harry Fockink*
Ao longo das últimas décadas, tenho acompanhado empresas familiares e famílias empresárias e percebido que muitas coisas são similares entre elas.
Um dos aspectos que mais pesa na sua não perenização é a degradação das relações entre os familiares que as compõem. Dos itens que levam a essa degradação, criticar em vez de dar feedback pesa muito. É a fonte de grande parte dos ressentimentos.
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Há pouco tempo, em um artigo do criador do conceito de Flow (Fluxo), Mihaly Csikszentmihalyi, deparei com um conteúdo interessante a respeito. Esse psicólogo de nome impronunciável se referiu a um estudo de Steven Stosny, um Ph.D. que trata essencialmente pessoas com problemas de raiva e relacionamento.
As considerei de grande validade para o ambiente das famílias empresárias, pois aborda as consequências negativas da crítica.
Citando Oscar Wilde, Dr. Stosny começa o artigo com a seguinte frase: “A crítica é a única forma confiável de autobiografia” e segue afirmando que ela diz mais sobre o crítico do que sobre as pessoas criticadas. E que profissionais experientes podem formular uma hipótese diagnóstica bastante precisa de alguém, apenas ouvindo suas críticas.
A crítica também é o primeiro dos famosos Quatro Cavaleiros do Apocalipse, de John Gottman, usados por ele para prever o divórcio de casais com mais de 90% de precisão. Pelos estudos de Gottman, o criticismo é o mais insidioso, seguido de perto por outros três: humilhar ou constranger, ficar na defensiva (vitimismo; tender a se sentir criticado ou julgado) e, por último, mas também importante, ignorar ou desprezar o outro.
Se vale para a relação matrimonial, vale para o restante das interações familiares? Evidente que sim, pois, segundo o Dr. Stosny, a crítica será destrutiva para quaisquer relacionamentos quando:
- For sobre a personalidade ou caráter, em vez de comportamento específico ou a premissa em questão,
- Vier carregada de acusação ou julgamento (culpar),
- Não enfocar a melhoria,
- Estar fundamentada em que há apenas um “caminho certo” para fazer as coisas (o de quem critica),
- Humilhar o outro (“Para diminuir outro, você tem que ser pequeno” – Gibran).
Ainda conforme o dr. Stosny, a crítica nos relacionamentos com pessoas próximas, no início e na maioria dos casos, se dá usando um tom de voz normal que aumenta com o tempo, formando uma espiral crescente de ressentimentos.
A pessoa criticada sente-se controlada, o que instintivamente rejeita. Isso frustra o parceiro que critica. Este então aumenta o tom de como se manifesta, piorando, no outro, a sensação da busca do controle sobre ele. E assim a relação entra em um processo vicioso cada vez pior – uma espiral negativa.
Em nenhum momento, nessa espiral, um fato óbvio ocorre para a pessoa que critica: com a sua atitude, ela fracassa totalmente em obter uma mudança de comportamento positiva. Qualquer ganho de curto prazo que se possa obter gera ressentimentos que um dia vêm à tona. E isso tende a levar a uma explosão de raiva ou a um rompimento definitivo.
Em síntese, a crítica falha porque incorpora duas coisas que os seres humanos odeiam:
- Ela demanda a submissão do criticado, e odiamos nos submeter.
- Ela desvaloriza, humilha, e odiamos nos sentirmos diminuídos.
Se por um lado as pessoas detestam se submeter, por outro, gostam de cooperar. As pessoas críticas parecem ignorar um ponto crucial sobre a natureza humana: quem é valorizado coopera; quem é desvalorizado resiste, se ressente e rompe, ou pior, se vinga.
Se alguém quiser mudar o comportamento de um parceiro, filho, parente ou amigo, primeiro deve mostrar o valor que a pessoa tem. Algo real. Se quiser resistência, basta criticar.
* Harry Fockink é parceiro do Agro Family Office. Especializado em psicologia empresarial, programas de qualidade, produtividade e gestão empresarial, apoia empresas familiares, ajuda na transformação de herdeiros em sucessores e participa em conselhos de administração.